Quando se fala em "comunicação interna" nas organizações, é comum pensar somente nos dispositivos jornalísticos constituídos por house organs de qualidade informativa duvidosa ou mesmo uma espécie de reprodutor da hierarquia vigente.
Muitas vezes, aspectos de comunicação interna referentes à transmissão de informação entre os vários níveis de atuação com fins precípuos de transmitir informações técnicas e/ou tecnológicas são deixados de lado. E é justamente o conjunto de tais informações que, somadas à consolidação de procedimentos geradores de soluções, transforma-se no principal construtor do capital intelectual de uma empresa.
O conceito de "dados", "informações" e "conhecimento" merece especial atenção para melhor explicitar a questão. Um dado só se torna uma informação quando for inserido em um contexto de utilidade, quer isso ocorra de forma isolada, quer de forma agrupada com ouros que venham a complementá-lo. Contudo, a validação dessa informação depende, principalmente, de sua divulgação e, conseqüentemente, do conhecimento para selecioná-la, avaliá-la e, quando aplicável, utilizá-la.
Com a transformação da "era da informação" em "era do conhecimento", a divulgação das informações exige maiores critérios de seleção bem como adequação para as diversas instâncias para onde são lançadas.
Com a consolidação da Internet, toneladas de informações surgem assistematicamente, produzindo um verdadeiro "caos" no universo do conhecimento, retirando a possibilidade de resgatar oportunamente sua importância ou oferecer-lhes tratamento que permita sua qualificação para posterior uso.
Ainda que tal fosse possível, percebe-se outra dificuldade: a permanência (tempo) do registro no ciberespaço, pois, com a mesma rapidez que a informação é inserida, nota-se seu desaparecimento.
Neste caso, a informação divulgada, especialmente a de cunho tecnológico, pode perder seu caráter conceitual, retornando a ser apenas "um dado".
Para gestionar melhor tal situação, é possível às organizações a utilização de ferramentas adequadas para, ao menos, transmitirem entre seus funcionários. Essas ferramentas são consolidadas pelas redes locais automatizadas ou, simplesmente, intranets.
A comunicação interna da empresa freqüentemente permite visualizar, por seus meios de divulgação, qual é sua hierarquia e o tipo de gestão ali presente. O reflexo disso pode gerar sérias conseqüências no cerceamento de informações técnicas via rede interna bem como a privação de conhecimento com vistas à manutenção do poder.
Sob tal aspecto, segundo AUGENDRE (2005, p.167), se for perguntado a qualquer funcionário de qualquer empresa, principalmente de médio e pequeno porte, qual a maior dificuldade para o desempenho, a resposta será, invariavelmente "a falta de comunicação".
Não se trata, aqui, de uma análise sobre as notícias salariais ou sobre os eventos promovidos pela empresa e sim até que ponto a falta de uma logística operacional de fluxo de informações está afetando a empresa.
É necessário saber se os caminhos de comunicação interna permitem ao emissor e ao receptor terem contato com informações relevantes que os auxiliem a bem desempenhar suas funções e otimizar seu trabalho.
A atuação da empresa em cenários competitivos depende da transformação de um conjunto de informações disponíveis em conhecimento consolidado e aplicado. E esse conhecimento necessita de gestão a fim de constituir o capital intelectual da empresa, hoje tão disputado quanto o capital financeiro da mesma.
É praticamente impossível dissociar a comunicação interna dos avanços tecnológicos, pois, como já citado anteriormente, devido à avalanche de informações lançadas, seria difícil a transmissão e a recuperação, em tempo hábil, das informações necessárias.
Logicamente, as informações, ainda que consolidadas são passíveis de muitos ruídos no momento da recuperação, seja pela diferença de interpretação, seja pelo grau de formação de cada indivíduo. Desse modo, a formalização das evidências e a divulgação coletiva das mesmas torna-se fundamental para ra redução sistemática das interferências que a subjetividade pode gerar.
Será essa formalização que permitirá à empresa, ampliar suas redes locais para transferir e receber informações "interempresariais". A troca contínua de informações, diferentemente do que até recentemente se pensava, não representa uma "ameaça" à competitividade das empresas, pois caberá a cada uma delas transformar tais informações em conhecimento a partir de seu próprio capital intelectual ou, quando muito, filtrar e descartar aquelas que não forem consideradas prioritárias.
Assim, pode-se notar que a comunicação interna extrapola a análise simplista sobre a elaboração boa ou má de veículos de comunicação uma vez que eles não passam, apenas, de um "dado" para o leitor, sem contexto e/ou utilidade visível.
Diversamente de uma comunicação de fatos e diante da impossibilidade de adequação de linguagens específicas para cada tipo de usuário, a comunicação interna de informações, via intranet, pode permitir a alimentação em rede, por meio de um sistema que transforme a terminologia em padrão.
CHIAVENATO (1987, p. 73), afirma que a tecnologia é algo que se desenvolve nas empresas por meio de conhecimentos acumulados e desenvolvidos sobre tarefas (know-how).
Diante dessa afirmativa, o capital intelectual das empresa só poderá ser resguardado e multiplicado pelo domínio da tecnologia de do processo de comunicação interna da empresa.
O próprio cenário competitivo das empresas tem apresentado significativas mudanças, firmando tendências que redirecionam a tecnologia e o conhecimento por elas obtidos ou controlados para fins decisões estratégicas.
Considerada como um dos principais fatores de sucesso das organizações (ZABOT, p. 58), a tecnologia da informação proporciona infra-estrutura para comunicações vitais. Essas comunicações apóiam decisões, multiplicando a sinergia de esforço para a produtividade.
O "comunicar-se via rede" altera significativamente a proposta de "computador pessoal" para "computador de equipe". Como conseqüência, ficam disponibilizadas ferramentas, informações e competências pessoais para toda a equipe, socializando o conhecimento.
Uma vez amadurecida a comunicação interna, é possível passar a uma segunda etapa: a da comunicação "intereempresarial". As aplicações particulares que representam o resultado do conhecimento gerado pelo grupo passam a fornecer suporte a clientes que, por sua vez, as controlam, absorvem e transformam em conhecimentos de acordo com sua utilidade.
A comunicação interna que utiliza tecnologia da informação possibilita equipes com alto desempenho dentro da empresa, tornando permanente o desenvolvimento de novos relacionamentos com esta organização.
Referências
AUGENDRE, Michel. Les maux de la communication interne. In: CABIN, Philippe; DORTIER, Jean-François, coord. La communication: etat des savoirs. 2. ed. actualisée. Paris: Sciences Humaines, 2005. p. 167-173.
BARBIERI, José C. Produção e transferência de tecnologia. São Paulo: Ática, 1990.
CHIAVENATO, Idalberto. Administração de empresas: uma abordagem contingencial. São Paulo: Makron, 1986.
CRAWFORD, Richard. Na era do capital humano. São Paulo: Atlas, 1994.
MORAN, J.M. Influência dos meios de comunicação no conhecimento. Ciência da informação, v. 23, maio/ago. 1994.
QUINN, James Brian; ANDERSON, Philip; FINKELSTEIN, Sydney. Gerenciando o intelecto profissional: extraindo o máximo dos melhores. In: APRENDIZAGEM organizacional: os melhores artigos da Harvard Business Review. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 77-99.
REVELLI, Carlo. Inteligência estratégica na Internet: como desenvolver eficazmente actividades de monitorização e de pesquisa nas redes. Lisboa: Instituto Piaget, 2000. 251 p.
ROZE, Maris; MAXWELL, Simon. Technical communication in the age of the Internet. 4th ed. New Jersey: Prentice-Hall, 2002. 305 p.
ZABOT, João Batista M. Gestão do conhecimento e organizações do conhecimento: o papel da tecnologia da informação. Dissertação (Mestrado) - Esag, UDESC, Florianópolis.
ZABOT, João Batista M.; SILVA, L.C. Mello da. Gestão do conhecimento: aprendizagem e tecnologia construindo a inteligência coletiva. São Paulo: Atlas, 2002. 142 p.
ELABORADO POR:
Marise Miglioli LorussoMestranda, bibliotecária especialista em planejamento e gerenciamento de sistemas automatizados de informação, professora universitária e consultora empresarial para a área de tecnologia da informação e gestão do conhecimento.
FONTE: http://www.comunicacaoempresarial.com.br/revista/04/comunicacoes/comunica5.asp